Hoje temos um belo texto, um conto de uma escritora de Ourinhos interior paulista:
A MULHER ENCANTADA
Num país distante próximo a
margem de um rio vivia um pescador com sua mulher. O sonho do casal era de que
um dia os laços de amor que um nutria pelo outro fossem solidificados com o
nascimento de um filho.
Certo dia depois de um longo
tempo de espera a mulher deu ao marido a feliz notícia de que finalmente teriam
um bebê. Nasceu-lhes uma linda menina de cabelos dourados, sua pele rosada
destacava seus olhos azuis, feito infinito do céu.
A menina crescia encantadora e os
pais viviam felizes, a filha lhes era um valioso presente que recebera dos
deuses. No entanto, houve naquele país um tempo de devastadora seca, com a
falta de chuva os rios e lagos se secaram e aquele pescador já não podia mais
retirar do rio o seu sustento.
Estavam certos de que morreriam
de fome e ao olhar para criança que inocentemente brincava sem se dar conta do
mal que os assolavam, o casal entrou em desespero. Mais que suas vidas, sua
filha era o bem mais valiosos que eles possuíam.
Numa manhã receberam uma visita
inesperada e assustadora, surge-lhes uma mulher com um manto azul, era possível
notar uma infinidade de pequenos diamantes que adornavam seu manto, na cabeça
possuía uma coroa brilhante com estrelas flamejantes. Não se tratava de uma
fada, nem tampouco de uma rainha, mas compreenderam que havia ali grande
encantamento.
Sem se apresentar a mulher foi
logo dizendo: - Entregue-me a menina que levarei comigo para viver num castelo
além das nuvens, cuidarei dela e prometo-lhes de nada terá falta. Sem pestanejar
o casal entregou-lhe a filha para que assim como a mulher encantada dissera lhe
sucedesse.
Daquele dia em diante a menina
passou a morar naquele castelo sobre as nuvens e muitos anos se passaram.
Certo dia a mulher encantada
precisou ausentar-se e entregou a menina, agora jovem um molho com muitas
chaves e disse: - Este molho de chaves abre muitas portas encantadas do castelo
e você poderá passear por ele e descobrir todo encantamento, porém, há uma
chave pequena e dourada que abre uma porta secreta, esta porta não deverá
abrir.
A jovem prometeu obedecer e assim
todos dos dias ao acordar saia para explorar o castelo e deste modo a cada
porta uma nova descoberta de encantamentos. Fadas, unicórnios, seres e
criaturas mágicas, a cada porta um deslumbramento.
Muitas manhãs se passaram até que
já não havia mais portas para serem abertas exceto a porta da chave pequena
dourada. Por longos dias resistiu-lhe a tentação em abri-la, no entanto, numa
manhã em que se sentia entediada não se conteve em espiar o que havia atrás
daquela misteriosa porta.
Ao abrir a porta, seus olhos
deslumbraram-se com a beleza de um trono onde repousava um homem cujos olhos
brilhavam como dois diamantes, sua coroa era cravejada em pedras preciosas, um
manto real que parecia labaredas de fogo.
Tudo era demasiadamente
encantador, o coração da jovem disparou, mas ainda, antes de fechar a porta não
resistiu-lhe tocar o trono e imediatamente seus dedos ficaram dourados.
Finalmente a mulher encantada
retornou, tomou o molho de chaves das mãos e perguntou a jovem:
- Porventura obedeceste?
- Sim! Respondeu a jovem.
- Porventura obedeceste? Indagou
novamente a mulher.
- Sim! Respondeu novamente a
jovem. E deste modo negou todas às vezes.
Por certo a mulher já havia
percebido que a jovem mentia e como punição lançou lhe um encantamento que só
se quebraria quando esta se arrependesse:
- De hoje em diante você não é mais digna de
viver neste castelo e lhe será retirada a voz.
Sem dúvidas alguma este era um
castigo bem severo! No mesmo instante a jovem caiu num sono profundo e quando
acordou se encontrava num bosque próximo a entrada de uma caverna.
A jovem agora muda se abrigava na
caverna para se proteger das feras, da chuva e quando caia a noite. Certa manhã
ouviu relinchar de cavalos, era a comitiva do rei que se perdera.
O príncipe descera do cavalo para
descansar sobre um rochedo, mas ficou boquiaberto com a visão que tivera,
pensou no primeiro instante tratar-se de um sonho ou quem sabe quem sabe um
encantamento, porém era real, ali em sua frente a mais linda jovem de todo o
reino.
O príncipe a convidou para se
tornar sua rainha, pois estava deslumbrado e apaixonado! Sem poder pronunciar
uma palavra sequer a jovem concordou acenando-lhe a cabeça. Assim sucedeu-lhes. Mesmo pelo triste fato da jovem não poder comunicar-se,
rainha e rei viviam felizes.
Um ano se passara e nasceu-lhes o
pequeno herdeiro. Certa manhã quando a rainha passeava pelos jardins do castelo
com o pequeno príncipe em seus braços foi surpreendida com a visita da mulher
encantada:
- Confessa sua desobediência ou
lhe será tirado o seu filho.
A jovem rainha mais uma vez negou
e a pequena criança lhe foi arrancada dos braços.
Ocorre, porém, que em todo reino
as pessoas diziam que a rainha era culpada pelo desaparecimento da criança.
Todos acreditavam que a rainha na verdade era uma velha bruxa disfarçada que
devorava crianças.
Deste modo foi ordenado que a “bruxa”
fosse queimada na fogueira!
A rainha não tinha como
defender-se afinal não podia falar. Muito entristecido o rei ordenou que a
trancassem no calabouço até a hora da execução.
Trancada no frio e escuro calabouço a jovem
rainha foi tomada por um sentimento de profunda tristeza e arrependimento, o único
desejo que lhe assolava o coração era de poder novamente encontrar pela última
vez a mulher encantada e pedir-lhe perdão antes de sua execução.
No mesmo instante, o calabouço
ficou todo iluminado, a Mulher Encantada apareceu e lhe disse:
- Minha querida, ouvi a voz do
seu coração. Por estar arrependida, vou retirar-lhe o encanto, devolverei sua
voz e a criança.
E foi por esta razão que a rainha
pode defender-se e livrar-se da fogueira ardente. Ela e o rei viveram felizes e
tiveram muitos filhos.
A jovem rainha sentia-se feliz pelo
fato de poder sempre dizer a verdade!
SOBRE A VERDADE... MAIS QUE APENAS UMA PALAVRA
No início da história da
Filosofia, os filósofos começaram a se perguntar sobre as mais diversas
questões que permeiam o pensamento humano. Uma delas é sobre a verdade. O que é
a Verdade?
Platão inaugura seu pensamento
sobre a verdade afirmando: “Verdadeiro é o discurso que diz as coisas como são;
falso aquele que as diz como não são”. É a partir daí que começou a se formar a
problemática em torno da verdade.
No dicionário Aurélio encontra-se
a seguinte definição de verdade: “Conformidade com o real”. Talvez merecesse um
comentário mais amplo, a afirmação acima de Platão, mas partindo do conceito
dado pelo dicionário pode-se chegar as seguintes conclusões:
Não existe uma verdade cujo
sujeito possa ser o seu detentor; a Filosofia chegou a distinguir cinco
conceitos fundamentais da verdade: a verdade como correspondência, como
revelação, como conformidade a uma regra, como coerência e como utilidade.
Falar-se-á um pouco de cada uma.
A verdade como correspondência
diz respeito à afirmação platônica que foi citado no inicio deste texto. É a verdade que garante a realidade, ou seja,
o objeto falado é apresentado como ele é. Aristóteles diz que: “Negar aquilo
que é, e afirmar aquilo que não é, é falso, enquanto afirmar o que é e negar o
que não é, é verdade”. Essa definição de verdade é a mais antiga e divulgada.
A concepção de verdade, sob o
aspecto da revelação, surge num tempo em que empirismo, metafísica e teologia
apresentaram novas formas de se entender a realidade. Trata-se de uma verdade
que sob a luz empirista se revelou ao homem por meio das sensações, e sob a
perspectiva metafísica ou teológica mostrou o verdadeiro por meio de um Ser
supremo, Deus, que evidencia a essência das coisas.
A conformidade apresenta uma
verdade que se adapta a uma regra ou um conceito. E esta noção de conformidade
foi usada pela primeira vez por Platão: “... tudo o que me parece de acordo com
este, considero verdadeiro,...” e retornando a história, Santo Agostinho
afirma: “existe, sobre a nossa mente, uma lei que se chama verdade”. Em suma, a
verdade, no sentido da conformidade, deve-se adequar a uma regra ou conceito.
Já na metade do século XIX,
surgiu no movimento idealista inglês, a noção de verdade como coerência. Essa
ideia de coerência foi difundida pelo filósofo Bradley. Ele critica o mundo da
experiência humana partindo da ideia de que “o princípio de que o que é
contraditório, não pode ser real”, isso o fez aceitar que “a verdade é
coerência perfeita”.
Por fim, achou-se o pressuposto
de verdade como utilidade, formulada primeiramente por Nietzsche: “Verdadeiro
não significa em geral senão o que é apto à conservação da humanidade. O que me
deixa sem vida quando acredito nele não é a verdade para mim, é uma relação
arbitrária e ilegítima do meu ser com as coisas externas”. A preocupação é que
a verdade como utilidade seja algo que faça bem toda a humanidade. O que não é
de práxis para a conservação do bem, podemos dizer que é verdade?
Toda essa investigação sobre a
verdade limita muito esse tema. A verdade possui inúmeros significados,
dependendo da pessoa que a defina. Ela continuará sendo uma das questões mais
abordadas nestes últimos tempos.
Estamos em um mundo de grandes
transformações. Muitas ideologias são nos apresentadas como verdades
inquebrantáveis. Somos forçados a acreditar na mídia, na política e na
manifestação religiosa. Isso acontece de uma maneira inconsciente.
O que nos libertará de toda essa
prisão é nossa atitude como sujeitos formadores de consciência crítica. A
questão é ir afundo sobre aquilo que nos é apresentado. Fugir do senso comum e
criar opiniões próprias. Depende de você encarar isso como verdade.
Abraços
Cristiane Nogueira