terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O HOMEM MORAL E O MORALIZADOR *

Depois de um bom século de psicologia e psiquiatria dinâmicas, estamos certos disso: o moralizador e o homem moral são figuras diferentes,se não opostas. O homem moral se impõe padrões de conduta e tenta respeitá-los; o moralizador quer impor ferozmente aos outros os padrões que ele não consegue respeitar.
A distinção entre ambos tem alguns corolários relevantes.
Primeiro, o moralizador é um homem moral falido: se soubesse respeitar o padrão moral que ele impõe, ele não precisaria punir suas imperfeições nos outros. Segundo, é possível e compreensível que um homem moral tenha um espírito missionário: ele pode agir para levar os outros a adotar um padrão parecido com o seu. Mas a imposição forçada de um padrão moral não é nunca um ato de um homem moral, é sempre o ato de um moralizador. Em geral, as sociedades em que as normas morais ganham força de lei (os Estados confessionais por exemplo) não são regradas por uma moral comum, nem pelas aspirações de poucos e escolhidos hoemns exemplares, mas por moralizadores que tentam remir suas próprias falhas morais pela brutalidade do controle que eles exercem sobre os outros. A pior bárbarie do mundo é isto: um mundo em que todos pagam pelos pecados de hipócritas que não se aguentam.

(Contardo Calligaris, Folha de S.Paulo, 20/Março/2.008)

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