Hoje posto o
excelente texto da advogada Andréia Scheffer
Especialista em
Direito Processual Civil.
Integrante da Comissão Especial do Jovem
Advogado
Integrante
Comissão Especial da Criança e do Adolescente da OAB/RS.
Coordenadora de
grupo de estudos da ESA.
Professora de
cursos jurídicos.
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Pensemos a
terceirização como um ato de contratação de terceiro para cumprir atividade
originalmente pessoal. Num momento em que muito se discute a questão da
terceirização no âmbito trabalhista, reflito se esse ato de delegação não está
culturalmente enraizado em nossa sociedade e não somente na esfera laboral.
Crescemos em
uma sociedade individualista e irresponsável, onde a solidariedade perdeu
espaço e a responsabilidade é delegada. Somos educados para transferirmos
nossas responsabilidades a terceiros. Somos culturalmente incentivados a
responsabilizar os outros por nossas infelicidades.
Entregamos à escola a responsabilidade pela educação de nossas crianças e adolescentes, entregamos aos representantes eleitos, o pleno exercício da política pública. Terceirizamos atividades indelegáveis, inclusive a culpa.
De quem é a culpa pelo atual colapso social? De quem é a culpa pela falta de investimento em saúde, educação, transporte e outros serviços básicos? De quem é a culpa pela alta criminalidade que vivenciamos? Precisamos apontar alguém e culpar, essa é a lógica do jogo afinal. Alguém deve responder pelo nosso sofrimento.
Entregamos à escola a responsabilidade pela educação de nossas crianças e adolescentes, entregamos aos representantes eleitos, o pleno exercício da política pública. Terceirizamos atividades indelegáveis, inclusive a culpa.
De quem é a culpa pelo atual colapso social? De quem é a culpa pela falta de investimento em saúde, educação, transporte e outros serviços básicos? De quem é a culpa pela alta criminalidade que vivenciamos? Precisamos apontar alguém e culpar, essa é a lógica do jogo afinal. Alguém deve responder pelo nosso sofrimento.
E quando
achamos o culpado, queremos punições. Queremos punições severas. Queremos
vingança. Mas quando este culpado estiver refletido no espelho? Este que não
acompanha o desenvolvimento de seu filho, este que não valoriza o professor,
este que vende o voto em troca de favores ou dinheiro, este que relativiza a
corrupção, este que lê este manifesto e não se identifica. Como trataremos este
irresponsável?
Sugiro que
deixemos a hipocrisia de lado e passemos a olhar pra dentro, dentro de si,
dentro de casa, dentro da escola, dentro da sociedade. Sejamos pais atuantes,
cidadãos militantes, que de “pacato cidadão” tenhamos somente a música. Deixemos
de lado o papel de meros financiadores e passemos a agir, a omissão também é
corrupção.
Há tempos
inventamos tecnologias para facilitar nosso dia a dia e nos tornamos reféns de
nossas próprias criações. Há tempos, investimos nosso tempo em engenhos que
facilitariam nosso tempo. Há tempos não damos tempo aos que precisam do nosso
tempo. E ante a falta de tempo, transferimos nossas responsabilidades mais
intrínsecas.
Portanto,
sugiro que tenhamos tempo para nossas crianças, tenhamos tempo ainda que este
tempo seja curto, tenhamos tempo de qualidade, afeto e zelo.
Tenhamos
tempo para a cidadania plena, exijamos o cumprimento das promessas de campanha
de nossos candidatos, temos o direito, temos o dever, tenhamos vontade e
coragem!
Recentemente
li uma frase, cujo autor desconheço, que reflete bem o pensamento que estou
tentando expor, dizia assim: “Por um mundo com menos dedos apontados e mais
mãos estendidas”.
Estendamos as mãos a quem precisa, estendamos as
mãos para pedir apoio e nos demos as mãos em prol da união. Reflitamos sobre
nossa real responsabilidade, deixemos de nos vitimar pela corrompida sociedade
e passemos a agir!